Friday, September 22, 2006

A arte como lugar da pratica feminista


Vista da Exposição na EIRA 33
(Ao fundo Mónica Faria - Meada, ao centro Isabel Carvalho - Wanda, na parede, Paula Tavares - Instruções para Super Mulheres, Catarina Carneiro de Sousa - Mais Vale Ser Uma Cadela do que Uma Galinha e André Alves - Abort More Christians)

A arte contemporânea, enquanto movimento de ruptura de paradigma, de contestação de práticas artísticas anteriores e re-significação dessas mesmas práticas, é uma arena onde se possibilitou a entrada de mulheres, como em nenhuma outra época da história de arte. Mulheres que vão possibilitar e contribuir para novas maneiras de conceber, materializar, conceptualizar, realizar práticas artísticas. Eu diria até que sem estas mulheres (e apenas como exemplos, diria Marina Abramovic, Gina Pane, Orlan, Sophie Calle, Nan Goldin, Cindy Sherman, Karen Finley, entre muitas outras), a arte contemporânea não seria o que é hoje em dia.

Contudo esta entrada de mulheres no mundo da arte, é acompanhada igualmente por uma série de trabalhos (exemplos: Judy Chicago, Karen Finley, Lynda Benglis, Louise Bourgeois, Ana Mendieta, Barbara Krueger) que tomam o género como ponto de partida. Igualmente nas ciências sociais e humanas, o género, a partir dos anos 70, começa a ganhar destaque e protagonismo. Com a chegada de autoras como Judith Butler à cena feminista, começa apensar-se o género como performance, a ver o género como algo que se faz e não como algo que se tem. Diz Butler: "Gender is a kind of imitation for which there is no original" (1991).

As performances de género decorrem do sistema assimétrico de género e das normas da heterossexualidade compulsiva, que pressupõem uma maneira conforme às normas para se comportar como homem ou como mulher. Contudo, essas normas podem ser desafiadas e desconstruídas a partir de performances de género subversivas. E que lugar mais interessante para as desafiar que o mundo artístico?

Para além das obras, é igualmente interessante colocar a questão dos discursos sobre as obras e sobre a arte. E o pensamento feminista é profícuo nessa reflexão. Alguns exemplos serão o ensaio de Laura Mulvey sobre a construção do olhar cinemático, as obras de Griselda Pollock sobre a história de arte contada de uma maneira completamente diferente do tradicional (basta ver-se um manual de referência de história de arte para percebermos que as mulheres são absolutamente excluídas) isto é, sem excluir as mulheres enquanto sujeitos da história da arte, os trabalhos de Peggy Phelan e de Amelia Jones sobre arte contemporânea e as várias antologias e obras que uma e outra coordenaram... entre outras.

Para além de possibilitar categorias de questionamento e de oferecer pontos de vista diferentes, o feminismo possibilitou novas leituras para o entendimento das obras de arte contemporânea. E se "o feminismo é a noção radical de que as mulheres são pessoas", como dizem as t-shirts da NOW certas obras de arte têm oferecido o espaço para repensar e reproblematizar esta questão, fazendo-nos, a nós feministas, reflectir de formas inovadoras e inesperadas. É pois um diálogo que está a ser estabelecido desde os anos 70, entre feminismo e arte, que tem as vantagens óbvias da polinização e da hibridização de propostas e que a exposição" All my independent women é um bom exemplo.

João Manuel de Oliveira, investigador e programador da EIRA 33

No comments: