ALL MY INDEPENDENT WOMEN começou por ser uma colecção de arte feminista… uma colecção não adquirida mas que ainda assim me pertencia porque faz parte do meu imaginário artístico. Mulheres e homens que questionam a sua posição no mundo, e no mundo da arte através da especificidade do seu género (“Numa cultura que é de facto construída pela dualidade sexual, não se pode ser simplesmente humano” – Bordo), questionando pois o que é isto de se ser mulher na nossa sociedade, ser feminino ou masculino.
As artistas (uso o feminino contrariamente à convenção do uso do masculino para designar o plural misto ou o geral, pois apesar de se incluírem homens nesta colecção ela trata maioritariamente de mulheres artistas) que escolhi “coleccionar” são-me próximas, já trabalhei de alguma forma com quase todas elas… acompanho o seu percurso de perto, assim posso dizer que o trabalho delas constrói aquilo que é o meu…
Após a mostra na Galeria SMS, do Museu de Arqueologia Sociedade Martins Sarmento em Guimarães, a colecção esteve também na livraria 100ª página em Braga. Um ano volvido e parece-me importante reunir novamente estas mulheres em torno da discussão da vivência do género na nossa sociedade. Alargo o grupo e proponho a apresentação de novos trabalhos. Mantendo como fio condutor o inspirador dicionário da crítica feminista (Ana Gabriela Macedo e Ana Luísa Amaral- Afrontamento) usando entradas como: Aborto, androginia, bixessualidade, ciberfeminismo, contos de fadas, corpo, estereotipo, feminilidade, género, imagem, masculinidade, maternidade, patriarcado e prostituição. Encaminhando assim a discussão feminista nas artes plásticas em Portugal.
Se com a afirmação de Beauvoire “não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres” (Simone de Beauvoir 1949) ganhamos consciência da construção do papel feminino contra a ideia de natural, “o nosso maior desejo pode ser ‘transcender as dualidades da diferença sexual’; não ter o nosso comportamento categorizado em termos de ‘masculino’ ou ‘feminino’. Porém quer nos agrade ou não, na cultura presente as nossas actividades são codificadas como ‘masculinas’ ou ‘femininas’ e funcionarão como tal no sistema prevalecente das relações de poder entre os sexos” (Bordo, 1990). Mantém-se, portanto, actual a necessidade dum movimento feminista cujo “objectivo … não é negar a diferença, mas recuperar o feminino na diferença sexual, gerar um imaginário de mulher autónomo, para lá dos estereótipos existentes da mulher” (Braidotti, 1994)
Com a participação de Alexandra Dias Ferreira, Ana Carvalho, Ana Pérez-Quiroga, André Alves, Ângelo Ferreira de Sousa, Bettina Wind, Carla Cruz, Catarina Carneiro de Sousa, Christina Casnellie, Inês Azevedo, Isabel Carvalho, Miguel Bonneville, Mónica Faria, Nina Höchtl, Paula Tavares, Rogério Nuno Costa, Suzanne van Rossenberg, Unknown Sender, Vera Mota, and ZOiNA.
Carla Cruz Agosto 2006
all my independent women na EIRA 33
Friday, September 22, 2006
A arte como lugar da pratica feminista
Vista da Exposição na EIRA 33
(Ao fundo Mónica Faria - Meada, ao centro Isabel Carvalho - Wanda, na parede, Paula Tavares - Instruções para Super Mulheres, Catarina Carneiro de Sousa - Mais Vale Ser Uma Cadela do que Uma Galinha e André Alves - Abort More Christians)
A arte contemporânea, enquanto movimento de ruptura de paradigma, de contestação de práticas artísticas anteriores e re-significação dessas mesmas práticas, é uma arena onde se possibilitou a entrada de mulheres, como em nenhuma outra época da história de arte. Mulheres que vão possibilitar e contribuir para novas maneiras de conceber, materializar, conceptualizar, realizar práticas artísticas. Eu diria até que sem estas mulheres (e apenas como exemplos, diria Marina Abramovic, Gina Pane, Orlan, Sophie Calle, Nan Goldin, Cindy Sherman, Karen Finley, entre muitas outras), a arte contemporânea não seria o que é hoje em dia.
Contudo esta entrada de mulheres no mundo da arte, é acompanhada igualmente por uma série de trabalhos (exemplos: Judy Chicago, Karen Finley, Lynda Benglis, Louise Bourgeois, Ana Mendieta, Barbara Krueger) que tomam o género como ponto de partida. Igualmente nas ciências sociais e humanas, o género, a partir dos anos 70, começa a ganhar destaque e protagonismo. Com a chegada de autoras como Judith Butler à cena feminista, começa apensar-se o género como performance, a ver o género como algo que se faz e não como algo que se tem. Diz Butler: "Gender is a kind of imitation for which there is no original" (1991).
As performances de género decorrem do sistema assimétrico de género e das normas da heterossexualidade compulsiva, que pressupõem uma maneira conforme às normas para se comportar como homem ou como mulher. Contudo, essas normas podem ser desafiadas e desconstruídas a partir de performances de género subversivas. E que lugar mais interessante para as desafiar que o mundo artístico?
Para além das obras, é igualmente interessante colocar a questão dos discursos sobre as obras e sobre a arte. E o pensamento feminista é profícuo nessa reflexão. Alguns exemplos serão o ensaio de Laura Mulvey sobre a construção do olhar cinemático, as obras de Griselda Pollock sobre a história de arte contada de uma maneira completamente diferente do tradicional (basta ver-se um manual de referência de história de arte para percebermos que as mulheres são absolutamente excluídas) isto é, sem excluir as mulheres enquanto sujeitos da história da arte, os trabalhos de Peggy Phelan e de Amelia Jones sobre arte contemporânea e as várias antologias e obras que uma e outra coordenaram... entre outras.
Para além de possibilitar categorias de questionamento e de oferecer pontos de vista diferentes, o feminismo possibilitou novas leituras para o entendimento das obras de arte contemporânea. E se "o feminismo é a noção radical de que as mulheres são pessoas", como dizem as t-shirts da NOW certas obras de arte têm oferecido o espaço para repensar e reproblematizar esta questão, fazendo-nos, a nós feministas, reflectir de formas inovadoras e inesperadas. É pois um diálogo que está a ser estabelecido desde os anos 70, entre feminismo e arte, que tem as vantagens óbvias da polinização e da hibridização de propostas e que a exposição" All my independent women é um bom exemplo.
João Manuel de Oliveira, investigador e programador da EIRA 33
WANDA
Wanda (pormenor) 2006 Isabel Carvalho
Vista da exposição com Wanda de Isabel Carvalho ao centro
(da esquerda para a direita na parede André Alves - Abort More Christians, Unknown Sender - Nice&Easy, Suzanne van Rossenberg - Interview With Martin Riley, Nina Hoechtl - To My Independent Friend Naima when she was Five e Ana Pérez-Quiroga - Odeio ser Gorda, Come-me Por Favor)
ver a entrada UTOPIA FEMINISTA no Dicionário de Critica Feminista:
"O termo utopia feminista aponta para uma ligação entre os elementos utópicos e o feminismo. A utopia feminista, tal como qualquer outra utopia é crítica e profética. Contudo distingue-se dos outros textos utópicos na medida em que apresenta uma crítica à opressão patriarcal, baseando o futuro da mulher e da humanidade em valores feministas."
Thursday, September 21, 2006
Sem Título
Sem Título 2006 Inês Azevedo
Do Dicionário de Critica Feminista: Feminilidade e Travestismo
"FEMININITY: of «feminil», characteristic of women. In Portuguese the term «feminine» can have two meanings, one of mimic and conformity to the social and sexual patterns traditionally identified as belonging to women, and of the discovery of oneself, that is, of one's subjectivity and difference in relation to the masculine. That is to say a set of rules imposed to women by patriarchal society, to make her attractive (in behaviour as in appearance) to the male eyes. «we are not born women, we become women», defends that femininity (becoming) as origin in social structures. Beauvoir"
"Não nascemos mulheres, tornamos-nos mulheres, assim defendendo que a feminilidade (o tornar-se mulher) tem origem em estruturas sociais". Beauvoir
"TRAVESTISMO: Adopção, por homem ou mulher, de trajes tradicionalmente associados com o outro sexo, de um modo temporário ou contínuo. Em muitas ocasiões o travestismo tem funcionado para as mulheres como uma maneira de ganhar acesso aos domínios masculinos que, de outro modo, lhes seriam inacessíveis…"
Mais Vale Ser Uma Cadela do Que Uma Galinha
Mais Vale Ser Uma Cadela do Que Uma Galinha 2000 Catarina Carneiro de Sousa
Para a exposição Pink Lotion - Desafio Prático Político-Sexual organizada pela ZOiNA na Caldeira 213, Porto 2000
Dicionário de Crítica Feminista: TRÁFEGO DE MULHERES
LAVAGEM A SECO
Do Dicionário de Crítica Feminista: Aborto
Lavagem a Seco Carla Cruz e Catarina Carneiro de Sousa (2004)
Para La Balancette #3 - Ateliers Mentol, Lavandaria Olímpica, Porto 2004
ABORTO: "O aborto enquanto interrupção voluntária da gravidez é um crime punível com pena de prisão pelo código penal, à excepção de situações como malformação do feto, risco de morte para a mulher ou violação. A lei condena, pois, a maioria das razoes que levam as mulheres a abortar, e que se prendem com motivos emocionais, afectivos, económicos, pessoais e de projecto de vida. Portugal e a Irlanda são os dois países da união Europeia com legislação mais proibitiva."
"The abortion as voluntary interruption of pregnancy is a crime punished by law with 2 to 3 years in jail, with the exception to situations such as malformation of the foetus, danger of death of the woman or rape. The law condemns, then, the main reasons that takes women to make an abortion, and that settles on with emotional, affective, economic and personal reasons. Portugal and Ireland are the 2 countries of the European Union with the most prohibitive legislation."
O Primo da Géni
Do Dicionário de Crítica Feminista: Violência Sexual.
Vista da exposição na Eira 33
O Primo da Géni, 2006 Carla Cruz, ao fundo.
pormenor, O Primo da Géni 2006 Carla Cruz
Diaries Book
Vista da exposição na Eira 33, Diaries Book de Ana Maria Carvalho
(ao fundo à esquerda Isabel Carvalho - Wanda, ao centro à direita Alexandra Dias Ferreira)
Diaries Book 2006 Ana Maria Carvalho
diaries book
Odeio Ser Gorda, Come-me Por Favor!
Odeio Ser Gorda, Come-me Por Favor 2002 Ana Pérez-Quiroga
Do Dicionário de Crítica Feminista: IMAGEM
"O termo imagem possui significados muito diversos, o que dificulta a sua definição: desde representação visual à copia e reflexo, de impressão visual a representação mental ou ideia, até ao conjunto de características atribuídas a uma pessoa ou categoria de pessoas. A importância atribuída à aparência da mulher: sempre e, palco, sempre observada, sempre visível, «a mulher transforma-se a si própria em objecto visual: uma visão». Por outro lado, pela frequência com que o feminino aparece em todo o tipo de representações visuais, desde a publicidade à moda, passando pela arte, pela pornografia, etc."
Interview With Martin Riley // To MY Independent Friend Naima When She Was Five
Interview with Martin Riley 2006 Suzanne van Rossenberg
CYBERFEMINISM
«Between the NOT anymore and the Not yet », that leads us to rethink the concept of female body as a cultural construction and a interface, a boarder of heterogenic and non continuous energies, a surface where multiple codes are inscribed (race, class, sex, age, etc,) (Braidotti 2000) … characterizes women as nomadic beings that travel permanently in between languages and cultures, intervening and interacting always, invading boarders and dissolving models and patriarchal heritages.
Ciborgues, that is, «chimeras», hybrids beings, identities fractured..
CIBERFEMINISMO
«Entre o já Não e o Ainda Não», que nos leva a repensar o conceito de corpo feminino enquanto construção cultural e uma interface, um limiar de energias heterogéneas e descontinuas, uma superfície onde se inscrevem múltiplos códigos (de raça, classe, sexo, idade, etc.) (Braidotti 2000) … caracteriza a mulher como seres nomádicos que viajam permanentemente entre linguagens e culturas, intervindo e interagindo sempre, invadindo fronteiras e dissolvendo modelos e heranças patriarcais…
Ciborgues, isto é, «quimeras», seres híbridos, identidades fracturadas.
To My Independent Friend, Naima When She Was Five 2005 Nina Höchtl
DIFERENÇA SEXUAL
O objectivo do feminismo não é negar a diferença, mas recuperar o feminino na diferença sexual, gerar um imaginário de mulher autónomo, para lá dos estereótipos existentes da mulher (Braidotti, 1994)
SEXUAL DIFFERENCE
The goal of feminism isn’t to deny the difference, but to recover the feminine in the sexual difference, to generate an autonomous female imaginary, beyond the existent stereotypes.
Abort More Christians
Abort More Christians (pormenor) 2006 André Alves
Dicionário de Crítica Feminista: PATRIARCADO
"Num contexto antropológico é o termo que descreve um sistema de organização social, formado a partir de células familiares estruturadas de tal forma que as tarefas, as funções e a noção de identidade de cada um dos sexos estão definidas de uma forma distinta e oposta, sendo estabelecido que as posições de poder, privilégio e autoridade pertencem aos elementos masculinos, quer ao nível familiar, quer ao nível mais lato da sociedade no seu todo. O patriarcado constituiu-se a partir da concentração de recursos e propriedade nas mãos dos homens, definindo um sistema de heranças ligado a uma genealogia por via varonil."
On an anthropologic context it is the term that describes a system of social organization, formed from family cells structured in a way that the tasks, the functions and the notion of identity of each sex is defined in a distinctive and opposed way, being established that the position of power, privilege and authority belong to the male elements, whether on a general level or on a family level. .
Can
CAN
Performance de Vera Mota
21 Setembro 2006 – 21h
Entrada livre
Vera Mota
"Ao que assiste o espectador que vê “Can”?
Podemos pensar que estamos perante uma demonstração, uma acção promocional, que poderia acontecer até num estúdio televisivo. Somos interpelados por uma figura que nos olha, nos mede com o seu olhar, sem que acedamos ao seu pensamento. As acções subsequentes vão introduzir a disrupção na austeridade da cena, numa performance em que nem o aplauso, o agradecimento final, proporciona o apaziguamento. A palavra inglesa can que é adoptada para título encontra a sua primeira, e mais imediata, explicação na embalagem em lata que a performer manipula. Mas é nessa manipulação dos objectos e no jogo de poder associado, em que a performer nos implica também a nós espectadores, que a palavra encontrará um relevo maior: quem pode e pode o quê? Who can and what can they? Esta performance tem óbvias – e desejáveis - ressonâncias dos discursos feministas, tanto académicos como artísticos, que encontra expressão, nomeadamente, no plano do desejo, no intercâmbio dos seus objectos e sujeitos. Os aspectos de critica presentes no trabalho são-no por uma via de uma estimulante ironia. Em “Can” sorri-se; nós e a performer. Mas de quê?"
Francisco Camacho
Monday, September 18, 2006
Instruções para Super Mulheres
Instruções para Super Mulheres 2006 Paula Tavares
ver entrada do Dicionário de Critica Feminista: ESTEREÓTIPO
"Definem estereótipos sexuais como um conjunto estruturado de crenças gerais acerca dos atributos de homens e mulheres, crenças que são partilhadas por um grupo de indivíduos. Os estereótipos passam então, a ser concebidos como categorias potencialmente neutras, actuando de forma semelhante a outras categorias cognitivas e, como tal, tendo a função de facilitar a categorização e a simplificação do ambiente social, numa tentativa de dar sentido e consistência a uma realidade complexa. "
Homenagem a Rrose Selavy
Homenagem a Rrose Selavy 2003 Isabel Carvalho e Carla Cruz
Originalmente criada para a exposição 'Enxoval' - organizada pela ZOiNA, Máus Hábitos - Porto 2003. // Originally created for the collective exhibition 'Enxoval', organised by ZOiNA - Máus Hábitos, Porto 2003.
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